sábado, 2 de agosto de 2008

Entrevista ao Jornal Margem Sul



“São as coisas difíceis da vida que me dão prazer”


25-Jan-2008


Pedro Bargado Actor


Aos 29 anos, Pedro Bargado enfrenta um dos maiores desafios da sua carreira. Interpretar a personagem mal-amada de Judas no musical de Filipe La Feria, “Jesus Cristo Super Star”, não é um teste acessível a todos, mas, segundo a crítica especializada, o actor da Moita passou com distinção. Pedro Bargado reconhece que o caminho artístico não tem sido fácil, mas invoca o trabalho constante como o único meio para chegar ao verdadeiro sucesso.


MARGEM SUL: Como se define profissionalmente, uma vez que dança, canta, representa e compõe música?

Pedro Bargado: Talvez como artista. Acima de tudo sou cantor, porque foi a minha primeira paixão, mas gosto muito de dançar e de representar. No Fundo, tento trabalhar em cada uma destas áreas com a maior dedicação e respeito. É muito difícil para mim dizer “sou bailarino, compositor ou actor” porque vêm-me logo à ideia os grandes mestres, comparado com os quais eu não sou nada. Não tenho estudos em teatro ou em música, a única escola que tenho é a da vida e a do coração. Deixo-me muito ir pelo que estou a sentir.
MS: Mas existe alguma área de que goste particularmente?

pb: Gosto muito de cantar, mas também adoro representar e tenho muito prazer em compor. Ainda hoje estive várias horas a compor músicas para novelas. Estive cinco anos a fazer teatro não musical e foi uma óptima experiência, que me permitiu aprender muito. Apesar disso, e mesmo agora que participo neste musical de muita visibilidade, é me difícil dizer “eu sou actor”.
MS: Algumas personalidades têm vindo a público reconhecer a qualidade do seu trabalho e já foi considerado como a revelação em teatro de 2007. Como avalia estas críticas?

pb: Nestes últimos tempos, o meu trabalho tem sido reconhecido de uma forma quase consensual e isso leva a que eu me sinta mais confortável quando me descrevo como actor. Pode parecer uma falsa modéstia, mas na verdade, como respeito muito cada profissão, não me sinto muito à vontade com estas coisas, sobretudo, numa altura em que há uma banalização do “ser actor”. Qualquer pessoa que vai a um casting ou que diz duas deixas numa novela ou num anúncio auto-intitula-se como actor.
MS: Não se deixa deslumbrar pela popularidade e pelo reconhecimento?

pb: Sinceramente não. Preocupo-me mais em trabalhar e estar bem. Não sou pessoa de aparecer em todas as festas. No entanto, preocupo-me em comparecer sempre nos eventos de solidariedade para os quais sou solicitado, porque considero que é uma obrigação das pessoas que têm alguma visibilidade pública. É preciso ter a noção que a popularidade é uma coisa temporária. Hoje és conhecido, amanhã já ninguém se lembra.
MS: Neste meio é necessário ter muito presente que a popularidade é algo efémero?

pb: As pessoas ligadas ao meio artístico devem perceber que o que conta é o trabalho em si, porque todos os projectos acabam. O problema é que algumas pessoas sentem-se tão especiais com a popularidade que, quando ela acaba, entram num desespero tal, como se lhes faltasse o chão. A popularidade que não tem como base o trabalho é ainda mais efémera, porque as pessoas em causa não têm nada de verdadeiro para oferecer ao público.
MS: Teve que ser muito persistente para conseguir chegar até aqui?

pb: Corro muito atrás de trabalho, não de fama. Eu adoro o palco. Trabalhar nestas áreas deixa-me muito feliz, no entanto, se é preciso fazer outras coisas, também faço. Houve períodos da minha vida em que tive que trabalhar noutras coisas, como em lojas. Claro que me senti triste nesses períodos, mas o importante é focar os nossos objectivos. Se não está a acontecer nada na tua vida, na área de que gostas, não vale a pena desesperar. O caminho nem sempre é recto e é preciso ser persistente. Sinto-me feliz por ter chegado aqui sem pisar, maltratar ou ter feito favores a alguém.
MS: A partir de que momento decidiu viver do meio artístico?

pb: Nunca tomei a decisão dessa forma. Em Portugal é difícil viver exclusivamente da música ou da representação. Só trabalhando com entidades que se estabeleceram e com pessoas que estão constantemente com novos projectos é que é possível viver exclusivamente como artista.
MS: Este é o teu maior desafio a nível profissional?

pb: Sim, porque dançar, cantar e representar ao mesmo tempo não é fácil. Não estou a dizer que os outros géneros de teatro sejam mais fáceis. Aliás, considero que fazer comédia é muito difícil porque é preciso ter um “timing” muito preciso e as piadas têm que ter uma determinada intenção. Mas neste trabalho, para além de combinar essas vertentes todas, também não conhecia os colegas, nem tinha trabalhado com o encenador.
MS: Como é trabalhar com Filipe La Feria?

pb: É difícil mas muito bom. São as coisas difíceis da vida que me dão prazer.
MS: O papel de Judas é difícil?

pb: Sim, porque envolve um sentimento duro e pesado, mas que ao mesmo tempo não pode ser “choramingas”. Para este papel pesquisei muito na internet, sobretudo imagem e pinturas e interpretações sobre esta figura. Outro material de pesquisa muito importante foi um documentário sobre o “Evangelho de Judas”. Descobri assim um lado muito mais humano da personagem. No fundo, a partir do texto que me foi entregue e não esquecendo que os últimos sete dias de Cristo que são apresentados resultam de uma recriação dos autores e não uma transcrição da bíblia, tentei construir o meu personagem.


PEDRO BARGADO é intérprete e compositor de diversos temas musicais presentes em novelas como ”Saber Amar”, “Morangos com Açúcar” e “Tu e Eu”, e já conta com uma vasta experiência de teatro, da qual se destacam as peças 2007 - “Provavelmente uma Pessoa” – de Abel Neves, “Jacques e o seu Amo” - de Milan Kundera, apresentado no Teatro da Trindade, “D´EÇA” - de Eça de Queiroz e “O Meu Pé de Laranja-Lima” – de José Mauro Vasconcelos, apresentado pelo Pequeno Palco de Lisboa.Em Televisão participou em programas como “Academia de Estrelas”, “Chuva de Estrelas” e “Canções da Nossa Vida”, em telenovelas como “Morangos com Açúcar” e “Mundo Meu” e na série “ Segredo de Justiça”.
Regularmente, compõe e interpreta músicas para peças de Teatro e programas de televisão, e também faz dobragens para séries e filmes de animação. Foi membro do grupo Gospell “Shout” e fez backvocals com Sara Tavares e Tó Cruz.
Em “Jesus Cristo Superstar” patenteia todo o seu potencial de cantor e actor encarnando a polémica personagem de Judas.


Irina Veríssimo

1 comentário:

Anónimo disse...

Felicitações por este blog!

O Pedro Bargado é uma força da natureza com um talento inconfundível.

Pelo seu talento, percurso de vida, por tudo o que lutou, pela sua humildade e amor à música merece todo o reconhecimento e respeito do grande público.

Desejamos que este blog seja o testemunho do seu percurso profissional que sabemos que vai ser longo e promissor.

Continuação de um bom trabalho!

Carmen e Sónia